“Rebranding” de al-Julani, fim da fase 1:
um bom detergente made in USA lava todos os assassínios, por maiores que sejam
José Catarino Soares
Dia 20 de Dezembro de 2024, Barbara Leaf, a secretária de Estado adjunta
para os Assuntos do Médio Oriente do Departamento de Estado dos EUA [equivalente
ao Ministério dos Negócios Estrangeiros nos países europeus] no governo de Joe
Biden, aterrou em Damasco para transmitir pessoalmente a decisão dos EUA de
eliminar a recompensa de 10 milhões de dólares pela detenção do dirigente máximo
do Hay’at Tahrir al-Sham (HTS) e sátrapa da Síria actual, Abu Mohammed al-Julani.
Barbara Leaf, Secretária de Estado adjunta para os Assuntos do Médio Oriente, testemunhando perante a Câmara dos Representantes dos EUA, em 8 de Novembro de 2023. Foto: Alex Wong/Getty Images/AFP. |
«Com base na nossa conversa, eu disse-lhe que não iríamos prosseguir com a oferta de uma recompensa do programa “Recompensas para a Justiça” que tem estado em vigor há alguns anos», disse Leaf aos jornalistas (Rabia Iclal Turan, “US removes $10M bounty on HTS leader following talks in Damascus”. AA, 20-12-2024).
Este cartaz data de 2018 e foi divulgado pelo “Rewards for Justice”, o principal programa de prémios e recompensas de segurança nacional do Departamento de Estado dos EUA. |
Depois das conversas com al-Julani e outros dirigentes do HTS, que ela afirmou terem sido “muito produtivas”, disse ainda a senhora Barbara Leaf, congratulando-se com as declarações amistosas de al-Julani para com os EUA, o seu ex-perseguidor implacável:
«É um pouco incoerente, portanto, ter uma recompensa pela cabeça do homem».
Abu Mohammed al-Julani (aliás, Ahmed Hussein al-Shara), sátrapa da Síria actual. Que ninguém se esqueça nem se iluda com o seu estudado ar de respeitabilidade. Este homem conquistou este cadeirão de poder a degolar e decapitar “infiéis”. |
Este espectacular flic-flac com mortal empranchado
à rectaguarda permitirá agora que Washington (já com Trump outra vez na
Casa Branca) levante as sanções contra a Síria decretadas ao abrigo do infame Caesar
Syria Civilian Protection Act de 2019 — a arma de guerra económica que sufocou
e acabou por fazer cair a República Árabe Síria, o último regime civil e laico do Médio
Oriente.
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P.S. [2 de Janeiro 2024]. Reproduzo aqui, com a devida vénia, o seguinte bilhete público, que se coaduna bem com o título do meu artigo mais acima:
CANALHICE DOS ORGÃOS MEDIÁTICOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL OCIDENTAIS
«Há dois anos, durante uma entrevista programada pela CNN, com o presidente iraniano Ibrahim Raisi, a jornalista da CNN negou-se a usar o hijab e a entrevista foi cancelada. Mas, quando o ex-líder do Daesh e Al-Qaeda e actual líder da Síria Abu Muhammad al-Julani exigiu o hijab, a mesma CNN aceitou, sorrindo, e a jornalista colocou o hijab.
Essa é a desgraça dos orgãos mediáticos de comnunicação social ocidentais: contaminam milhões»
(Carlos Sério, Facebook, 1 de Janeiro de 2025, revisão da Tertúlia Orwelliana).
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P.S.-2 [3 de Janeiro de 2025]. A seguir à benção da senhora Barbara Leaf, do governo dos EUA, foi agora a vez ‒ hoje, dia 3 de Janeiro de 2025 ‒ dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Alemanha (Annalena Baerbock) e da França (Jean-Noël Barrot), se deslocarem a Damasco para darem também a sua benção ao sátrapa da Síria actual --- o corta-goelas e corta-cabeças Abu Mohammed al-Julani (aliás, Ahmed Hussein al-Shara). Ver foto abaixo.
«É possível um reset político entre a Europa e a Síria, entre a Alemanha e a Síria. É com esta mão estendida, mas também com claras expectativas em relação aos novos governantes, que nos deslocamos hoje a Damasco», afirmou a ministra alemã, Annalena Baerbock. Pormenor picante, mas elucidativo: apesar destas juras de apoio, al-Julani recusou-se a apertar a mão à senhora Annalena Baerbock, certamente por esta ser uma mulher...
Antes premiar quem indicia mudar que sustentar quem nunca muda.
ResponderEliminarQuanto a premiar quem merece, estou de acordo. A minha sugestão, no caso da Síria, vai para aqueles que agora bajulam e apaparicam al-Julani (Joe Biden, António Costa, Ursula von der Leyen, Starmer, Macron, etc.), e que, por sinal, são também, todos eles, apoiantes indefectíveis do regime genocida de Israel. Merecem ser colectivamente galardoados com o prémio IgNóbil pelos seus serviços distintos em prol de um mundo feito à sua imagem e semelhança.
ResponderEliminarSobre Israel e mudança:
EliminarPorque nunca os adversários de Israel me dizem que mudança esperam do Hamas e do Hezbollah?
Pela parte que me toca, não espero mudança nenhuma de Israel, porque Israel não tem futuro. Alexandra Lucas Coelho explicou muito bem porquê, aqui [https://estatuadesal.com/2024/12/29/israel-acabou-o-futuro-e-da-palestina-a-verdade-mais-dificil-esta-por-escrever/]. Não espero também mudança nenhuma do Hamas e do Hezbollah, cuja principal (se não mesmo única) razão de existência é a existência de Israel. E como Israel não tem futuro, terão de encontrar uma outra razão de existência, se quiserem ter futuro. Não vejo que sejam capazes disso, mas posso estar enganado, bem entendido.
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